Relatório apresentado na COP30 expõe desigualdades estruturais e reforça a urgência de políticas que unam justiça climática e justiça racial no Brasil.
A primeira semana da COP30, realizada em Belém, recolocou no centro das discussões climáticas um tema que há anos precisa de atenção prioritária: O racismo ambiental. Dados apresentados durante a conferência demonstram uma realidade dura e estrutural no Brasil, os impactos das mudanças climáticas, dos desastres ambientais e das falhas de infraestrutura atingem principalmente pessoas negras, moradores de favelas, periferias e territórios tradicionais.
O relatório “Sem Moradia Digna, Não Há Justiça Climática”, apresentado pela Habitat para a Humanidade Brasil, revelou um número alarmante: Que 66,58% das pessoas que vivem em áreas de risco no país são negras. A análise, feita em 129 municípios, mostra que entre 2013 e 2022 o Brasil registrou 2,1 milhões de casas danificadas e 107 mil destruídas por desastres ambientais. Na maior parte dos casos, são famílias chefiadas por mulheres negras que enfrentam, sozinhas, a linha de frente dos impactos climáticos.
Esse cenário não é fruto do acaso, é resultado direto do racismo ambiental, um conceito que nasceu nos Estados Unidos nos anos 1980 com o ativista Benjamin Chavis Jr. e que, no Brasil, passou a ser usado nos anos 2000 para denunciar como as desigualdades raciais moldam quem tem acesso a serviços básicos, segurança, moradia digna e proteção ambiental.
Apesar das tensões, a COP30 ampliou a visibilidade do tema. O Brasil impulsionou debates sobre adaptação e apresentou propostas para acelerar a eliminação dos combustíveis fósseis, essenciais para reduzir tragédias climáticas que atingem, principalmente, populações em situação de vulnerabilidade.
As desigualdades reveladas pela COP30 reforçam uma mensagem central para organizações como o Revolusolar: não existe transição energética verdadeira sem enfrentar o racismo ambiental. Isso significa construir soluções que incluam as periferias, distribuam benefícios e tratem a energia como direito básico, não privilégio.
Projetos de energia solar comunitária, como os desenvolvidos pelo Revolusolar, mostram que é possível unir redução de emissões, autonomia energética e combate às desigualdades sociais.
A crise climática aprofunda desigualdades já existentes. Em muitas cidades brasileiras, populações negras vivem em áreas mais suscetíveis a enchentes, deslizamentos, contaminação e falta de saneamento. As vítimas das tragédias recentes na região metropolitana do Rio de Janeiro, onde 12 pessoas morreram, refletem essa realidade. Como destacou a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, o evento evidenciou “o racismo ambiental e a desigualdade no acesso a serviços e moradia”.
Além dos centros urbanos, comunidades quilombolas e povos indígenas, fundamentais para a preservação dos ecossistemas, têm seus territórios invadidos ou precarizados, com pouca influência nas decisões que impactam suas terras, apesar de protegerem boa parte da biodiversidade do país.
Pesquisadores da região alertam que o racismo ambiental no Norte se manifesta na poluição que atinge quilombos como Barcarena e Abacatal, na vulnerabilidade de bairros como Vila da Barca e nas chamadas “remoções verdes”, que são deslocamentos forçados justificados por políticas ambientais sem participação comunitária.



